Recebi, e aceitei, o convite para ir assistir ao 3.º Fórum de Participação sobre a apresentação da "Visão Estratégica para a Quinta do Almaraz" que decorreu no sábado passado (dia 20) no auditório dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas.
Da experiência que tenho de outras sessões da mesma natureza a que assisti, estes eventos, anunciados com pompa e circunstância como momentos de grande empatia entre o executivo municipal, as equipas técnicas e a população, acabam apenas por ser meras "feiras de vaidades" em que a opinião dos cidadãos pouco ou nada conta… deseja-se que encham a sala mas se participarem que seja para dizer bem do projecto ou colocar questões inócuas.
Confesso, contudo, que tinha alguma esperança de que, desta vez, fosse diferente. Por isso, resolvi intervir na parte do debate esperando que respondessem às duas perguntas que coloquei, simples e objectivas.
Depois do Arq.º Samuel Torres ter feito a explanação daquela que será a visão estratégica do município para a área da Quinta do Almaraz / Ginjal, numa linguagem acessível, é verdade, mas com a parte visual algo empobrecida (ilustrada por plantas ilegíveis para a maioria do público presente devido à qualidade/dimensão da projecção) quase parecia que aquelas ideias eram certezas e que estávamos perante o retrato antecipado daquela que seria, a curto prazo, a imagem da zona, dado o empenho com que ele apresentava o projecto, já com pormenores de desenho urbano perfeitamente delineados e afectação de usos específicos.
Sem querer retirar qualquer mérito ao projecto (muito pelo contrário: é notório o esforço em integrar, de forma equilibrada e fundamentada, as diversas vertentes cultural, económica e até social que têm ali um local óptimo para germinar), que considero um passo importante e necessário para regulamentar a urgente recuperação daquela área (aliás, uma etapa imprescindível em termos de planeamento do território), não posso, contudo, deixar de lamentar que os políticos utilizem estes instrumentos de ordenamento como se fossem programas de acção e tentem convencer os cidadãos de que tudo é fácil de concretizar e, sobretudo, começa já amanhã.
Porque as coisas não são, de facto, assim, e porque aquilo a que assistimos, quase sempre, é que estas visões não passam disso mesmo… sonhos idealistas! Com muito poucas hipóteses de se concretizarem no terreno a médio prazo. E que, infelizmente, servem como desculpa perfeita para explicar a inércia do presente, ou seja: recuperar hoje? Para quê? Se tudo se vai resolver daqui a nada? E, assim, continuamos à espera… por quanto mais tempo? 10, 20 30 anos? Até quando?
Por isso, após me ter identificado como Ermelinda Toscano, residente em Cacilhas e membro da respectiva Assembleia de Freguesia, perguntei à Mesa da sessão, a qual era composta por, da esquerda para a direita, Arq.º Veríssimo Paulo, Vereador Jorge Gonçalves, Maria Emília Neto de Sousa (Presidente da Câmara Municipal), Arq.º Samuel Torres e Arq.º Paulo Pardelha:
Sendo esta uma visão estratégica, ela carece, necessariamente, de um plano que a concretize. Para quando está previsto o início desta segunda fase? Quantos mais anos teremos de esperar e continuar a assistir à degradação, nomeadamente, do Ginjal?
Todos sabemos que apesar desta ser a vontade do município, ela depende da intervenção dos privados para ser implementada o que torna impossível estabelecer um cronograma de execução da obra, que poderá levar décadas até à finalização desejada. No entretanto, não poderá a autarquia encetar algumas acções concretas, mesmo que provisórias, no sentido de possibilitar, por exemplo, o usufruto turístico do "campus arqueológico" da Quinta do Almaraz, uma importante valência cultural, única na área metropolitana, que se encontra completamente desaproveitada?
Do público intervieram, ainda, além de mim própria, vários residentes:
José Felizardo, que falou do muro da Elias Garcia; Luís Vicente (conceituado investigador, reconhecido internacionalmente) e Margarida Ferreira, que abordaram problemas ambientais e levantaram questões acerca da densidade de ocupação humana e de mobilidade; Carlos Leal (Presidente da Junta) para enaltecer o papel da CMA e salientar os dotes do projecto; Susana Gomes, sobre a Quinta dos Inglesinhos; José Carlos Rodrigues, que abordou a falta de ligação dos vários projectos turísticos da orla ribeirinha do concelho; Ana Maria Cruz, congratulando-se pela importância dada à ligação à educação/formação e Henrique Mota (Presidente da Associação O FAROL) para lembrar da necessidade deste projecto, que considerou muito importante para os cacilhenses, avançar o mais rápido possível. De frisar que o estacionamento e a localização dos silos automóveis propostos para a zona foram uma preocupação transversal em quase todas as intervenções.
Todos tiveram direito a uma resposta (à excepção do meu caso), mesmo que a maioria das dúvidas levantadas tivessem ficado por esclarecer, como é, infelizmente, hábito acontecer neste tipo de sessões, que são organizadas não com o intuito de ouvir, aceitar e integrar quaisquer sugestões válidas dos cidadãos mas funcionam, apenas, como montras de produtos acabados e cujo conteúdo é apresentado como um facto consumado do qual se dá conhecimento à plebe como se isso bastasse para se dizer que estão cumpridos os princípios da democracia participativa.
Como as pergunta que fiz exigiam, sobretudo, esclarecimentos políticos, ainda julguei que seriam os autarcas presentes a esclarecê-las. Esperei pela intervenção da Presidente da Câmara, que gravei quase na íntegra. Mas nada! Nem uma palavra. Tudo se passou como se eu nem sequer tivesse falado.
Pese embora eu ter ficado na altura bastante escandalizada com esta atitude, acabei por não ligar importância ao facto que, afinal, era de esperar. Tentarei, como sempre tenho feito até aqui, levantar estas questões sempre que me for oportuno, nomeadamente na Assembleia de Freguesia a que pertenço, e deixo a notícia neste espaço para que outros saibam como em Almada se respeitam as opiniões dos cidadãos que não vêm para estes fóruns tecer loas ao executivo… ignoram-se completamente! E é este o tal "território de participação" que conta connosco. Enfim, e depois querem que as pessoas acreditem que vale a pena assistir a estes espectáculos!!!!
Da experiência que tenho de outras sessões da mesma natureza a que assisti, estes eventos, anunciados com pompa e circunstância como momentos de grande empatia entre o executivo municipal, as equipas técnicas e a população, acabam apenas por ser meras "feiras de vaidades" em que a opinião dos cidadãos pouco ou nada conta… deseja-se que encham a sala mas se participarem que seja para dizer bem do projecto ou colocar questões inócuas.
Confesso, contudo, que tinha alguma esperança de que, desta vez, fosse diferente. Por isso, resolvi intervir na parte do debate esperando que respondessem às duas perguntas que coloquei, simples e objectivas.
Depois do Arq.º Samuel Torres ter feito a explanação daquela que será a visão estratégica do município para a área da Quinta do Almaraz / Ginjal, numa linguagem acessível, é verdade, mas com a parte visual algo empobrecida (ilustrada por plantas ilegíveis para a maioria do público presente devido à qualidade/dimensão da projecção) quase parecia que aquelas ideias eram certezas e que estávamos perante o retrato antecipado daquela que seria, a curto prazo, a imagem da zona, dado o empenho com que ele apresentava o projecto, já com pormenores de desenho urbano perfeitamente delineados e afectação de usos específicos.
Sem querer retirar qualquer mérito ao projecto (muito pelo contrário: é notório o esforço em integrar, de forma equilibrada e fundamentada, as diversas vertentes cultural, económica e até social que têm ali um local óptimo para germinar), que considero um passo importante e necessário para regulamentar a urgente recuperação daquela área (aliás, uma etapa imprescindível em termos de planeamento do território), não posso, contudo, deixar de lamentar que os políticos utilizem estes instrumentos de ordenamento como se fossem programas de acção e tentem convencer os cidadãos de que tudo é fácil de concretizar e, sobretudo, começa já amanhã.
Porque as coisas não são, de facto, assim, e porque aquilo a que assistimos, quase sempre, é que estas visões não passam disso mesmo… sonhos idealistas! Com muito poucas hipóteses de se concretizarem no terreno a médio prazo. E que, infelizmente, servem como desculpa perfeita para explicar a inércia do presente, ou seja: recuperar hoje? Para quê? Se tudo se vai resolver daqui a nada? E, assim, continuamos à espera… por quanto mais tempo? 10, 20 30 anos? Até quando?
Por isso, após me ter identificado como Ermelinda Toscano, residente em Cacilhas e membro da respectiva Assembleia de Freguesia, perguntei à Mesa da sessão, a qual era composta por, da esquerda para a direita, Arq.º Veríssimo Paulo, Vereador Jorge Gonçalves, Maria Emília Neto de Sousa (Presidente da Câmara Municipal), Arq.º Samuel Torres e Arq.º Paulo Pardelha:
Sendo esta uma visão estratégica, ela carece, necessariamente, de um plano que a concretize. Para quando está previsto o início desta segunda fase? Quantos mais anos teremos de esperar e continuar a assistir à degradação, nomeadamente, do Ginjal?
Todos sabemos que apesar desta ser a vontade do município, ela depende da intervenção dos privados para ser implementada o que torna impossível estabelecer um cronograma de execução da obra, que poderá levar décadas até à finalização desejada. No entretanto, não poderá a autarquia encetar algumas acções concretas, mesmo que provisórias, no sentido de possibilitar, por exemplo, o usufruto turístico do "campus arqueológico" da Quinta do Almaraz, uma importante valência cultural, única na área metropolitana, que se encontra completamente desaproveitada?
Do público intervieram, ainda, além de mim própria, vários residentes:
José Felizardo, que falou do muro da Elias Garcia; Luís Vicente (conceituado investigador, reconhecido internacionalmente) e Margarida Ferreira, que abordaram problemas ambientais e levantaram questões acerca da densidade de ocupação humana e de mobilidade; Carlos Leal (Presidente da Junta) para enaltecer o papel da CMA e salientar os dotes do projecto; Susana Gomes, sobre a Quinta dos Inglesinhos; José Carlos Rodrigues, que abordou a falta de ligação dos vários projectos turísticos da orla ribeirinha do concelho; Ana Maria Cruz, congratulando-se pela importância dada à ligação à educação/formação e Henrique Mota (Presidente da Associação O FAROL) para lembrar da necessidade deste projecto, que considerou muito importante para os cacilhenses, avançar o mais rápido possível. De frisar que o estacionamento e a localização dos silos automóveis propostos para a zona foram uma preocupação transversal em quase todas as intervenções.
Todos tiveram direito a uma resposta (à excepção do meu caso), mesmo que a maioria das dúvidas levantadas tivessem ficado por esclarecer, como é, infelizmente, hábito acontecer neste tipo de sessões, que são organizadas não com o intuito de ouvir, aceitar e integrar quaisquer sugestões válidas dos cidadãos mas funcionam, apenas, como montras de produtos acabados e cujo conteúdo é apresentado como um facto consumado do qual se dá conhecimento à plebe como se isso bastasse para se dizer que estão cumpridos os princípios da democracia participativa.
Como as pergunta que fiz exigiam, sobretudo, esclarecimentos políticos, ainda julguei que seriam os autarcas presentes a esclarecê-las. Esperei pela intervenção da Presidente da Câmara, que gravei quase na íntegra. Mas nada! Nem uma palavra. Tudo se passou como se eu nem sequer tivesse falado.
Pese embora eu ter ficado na altura bastante escandalizada com esta atitude, acabei por não ligar importância ao facto que, afinal, era de esperar. Tentarei, como sempre tenho feito até aqui, levantar estas questões sempre que me for oportuno, nomeadamente na Assembleia de Freguesia a que pertenço, e deixo a notícia neste espaço para que outros saibam como em Almada se respeitam as opiniões dos cidadãos que não vêm para estes fóruns tecer loas ao executivo… ignoram-se completamente! E é este o tal "território de participação" que conta connosco. Enfim, e depois querem que as pessoas acreditem que vale a pena assistir a estes espectáculos!!!!
A terminar, fica uma rápida passagem pela imprensa escrita (dos jornais locais ainda nada se sabe em virtude de serem semanários):
E aconteceu o que esperava. Nem uma única referência às intervenções dos moradores. Em contrapartida, citavam declarações do Vereador António Matos, que não fazia parte do painel de oradores (mas estava na plateia, claro), que respondia a uma das minhas perguntas. Estranho, hem? Fiquei, então, a saber, que as obras terão início daqui a dois/três anos… com as eleições autárquicas aí à porta, convenientemente. Será? E a que obras, em concreto, se está o senhor vereador a referir?
E aconteceu o que esperava. Nem uma única referência às intervenções dos moradores. Em contrapartida, citavam declarações do Vereador António Matos, que não fazia parte do painel de oradores (mas estava na plateia, claro), que respondia a uma das minhas perguntas. Estranho, hem? Fiquei, então, a saber, que as obras terão início daqui a dois/três anos… com as eleições autárquicas aí à porta, convenientemente. Será? E a que obras, em concreto, se está o senhor vereador a referir?
(Global Notícias e Metro - Lisboa, respectivamente, de 22/10/2007)
Deixo-vos os vídeos com a intervenção da senhora Presidente da CMA e chamo a vossa atenção para estes dois pormenores:
Observem como Maria Emília fala, fala, fala, fala e pouco diz sobre o projecto da Quinta do Almaraz / Ginjal. Mais parece um comício de propaganda do regime onde tudo serve para enaltecer o papel do executivo municipal e mostrar como a razão só pode estar do lado de lá (do deles, como é óbvio).
E oiçam com muita atenção o "take" número oito: nele reside a chave do enigma… isto é, aí se desvenda o mistério de a partir de quando poderemos ver, no terreno, a concretização plena desta visão, como pensa a CMA actuar e de qual será o cenário de Cacilhas para os próximos anos. Se precisarem de ajuda basta deixar um comentário pedindo esclarecimentos que, ao contrário do que fizeram comigo, eu respondo a todos.
Observem como Maria Emília fala, fala, fala, fala e pouco diz sobre o projecto da Quinta do Almaraz / Ginjal. Mais parece um comício de propaganda do regime onde tudo serve para enaltecer o papel do executivo municipal e mostrar como a razão só pode estar do lado de lá (do deles, como é óbvio).
E oiçam com muita atenção o "take" número oito: nele reside a chave do enigma… isto é, aí se desvenda o mistério de a partir de quando poderemos ver, no terreno, a concretização plena desta visão, como pensa a CMA actuar e de qual será o cenário de Cacilhas para os próximos anos. Se precisarem de ajuda basta deixar um comentário pedindo esclarecimentos que, ao contrário do que fizeram comigo, eu respondo a todos.
"Take" 1:
"Take" 2:
"Take" 3:
"Take" 4:
"Take" 5:
"Take" 6:
"Take" 7:
"Take" 8:
"Take" 9:
4 comentários:
Também estive no referido Fórum e quanto à questão de você afirmar:-
"Porque as coisas não são, de facto, assim, e porque aquilo a que assistimos, quase sempre, é que estas visões não passam disso mesmo…"
É claro que estes estudos são meras visões que às vezes quando conquistam muitas "almas" se transformam em realidade e isso é assim mesmo.
Quanto a mim, os problemas do Estudo Estratégico de Almaraz são os seguintes:
- Propor áreas de habitação e um silo de estacionamento para a zona de Almaraz, acho errado, a zona está demasiado estrangulada para lá se meter mais gente a viver, se queremos transformar o local numa zona de referencia museológica , só essa função já levaria para lá gente suficiente. O local deveria ser uma enorme zona arqueológica com espaços verdes e áreas de apoio, como o referido centro de estudos de Almaraz.
O silo de estacionamento, acho desnecessário, quanto muito um espaço de estacionamento para visitantes.
Em relação ao ginjal, acho péssima a ideia de mandar abaixo todas as construções, não aproveitando alguns edificios que devido às suas casracteristicas são refencia do passado industrial do local... enfim muitas outras coisas haveria para dizer, mas estas são as essenciais e acho que mais gente deveria começar a perceber o que se passa e a participar nestes fóruns para se fazer ouvir
Caro (ou cara) Almada. Começo por lhe desejar as boas-vindas a este espaço. Cá fico à sua espera mais vezes.
Afirmei, e torno a afirmar tudo o que disse. Sei que estes trabalhos, ditos de "visões estratégicas" são isso mesmo "visões", aqui entendidas enquanto "linhas mestras de orientação", "definição de objectivos gerais"!
Insurjo-me é contra o facto de tentarem apresentá-los como se fossem uma certeza, quando todos sabemos que a sua concretização depende da iniciativa privada, ou seja, da vontade/disponibilidade financeira dos particulares.
(aliás é isso mesmo que a Presidente da Câmara acaba por admitir no take 8).
Quanto aqueles que considera os problemas do Almaraz, tenho a dizer que concordo consigo. Assim como em relação ao Ginjal.
A terminar, faço minhas as suas palavras "acho que mais gente deveria começar a perceber o que se passa e a participar nestes fóruns para se fazer ouvir."
Um resto de bom domingo e uma óptima semana de trabalho.
o que receio, é a fatalidade tosca do antigo miradouro Luis de Queirós, do Lavadouro Municipal, do Miradouro do Jardim do Castelo.
Fatalidades toscas,concessionadas vitaliciamente, para engordar a "entourage" pacóvia.
O que temo é que seja entregue à "máfia artística", aos mimos teatrais, todo aquele espaço.
Consolidem a falésia!
Ainda lá moram pessoas!
Recuperem os edifícios!
Conheçam a fauna e a flora do sopé da falésia.
Ou vão fazer ás corujas e aos pequenos falcões a velhacaria que fizeram ao dragoeiro?
Não se cale minha senhora, obrigado.
Caro Mr. T.: também não gosto das intervenções que refere, em particular da implantação do restaurante no Jardim/Miradouro do Castelo... uma aberração paisagística.
São soluções para satisfazer interesses... (e não vale a pena dizer de quem).
O Cais do Ginjal... a cultura e o lazer não são incompatíveis com o usufruto daquele espaço, mas o que dá dinheiro são outro tipo de usos... também eu espero que não descaracterizem a zona, um perigo real mas não pela ocupação artística que os edifícios possam ter.
Espero, ainda, conforme o prof. Luís Vicente falou neste fórum, que os especialistas considerem os problemas ambientais que fala (da fauna e flora). Para que assim seja é que nós devemos estar atentos e ter uma intervenção cívica pró-activa, de participação.
Um bom início de semana.
Enviar um comentário